Os filhos foram embora? E agora? Mas talvez a pergunta mais pertinente seja entender que vazio é esse que o ninho preencheu. O que tentamos suprir com a criação de nossos filhos? Que furo é esse que tentamos desesperadamente tamponar nos abandonando como homens e mulheres, deixando de viver nossas vidas em prol desta “maternagem” que pode ser exercida tanto pela figura materna ou paterna?
Na grande maioria dos casos é a mãe que se entrega a esse papel e se desinveste enquanto mulher e profissional, que abre mão de suas amizades e desejos para se dedicar exclusivamente à maternidade. Esse fenômeno também pode acontecer com os homens, apesar de ser bem menos frequente, mas a questão é pensarmos juntos na razão pela qual mulheres e homens se colocam nesse lugar. Importante lembrar que essa é uma questão de escolha. E por qual razão escolhemos nos colocar nessa posição?
Ver os filhos tornarem-se independentes e fazerem suas escolhas, dentre elas seguir suas vidas, pode ser difícil demais para muitos de nós pais e ou familiares. O que fazer agora com toda dedicação que até então era apenas direcionada a eles? Onde estão nossos projetos de vida que só tinham os deles para se preocupar e agora diante da “missão cumprida” nos vemos diante de um enorme vazio existencial? Esse ninho vazio aos quais nos vemos, possivelmente ocorra porque só soubemos direcionar toda nossa energia psíquica, libido ou pulsão de vida à criação dos rebentos, isto é, não conseguimos nos perceber como homens e mulheres com nossas subjetividades e desejos. Nos esquecemos enquanto casal. Nos mantivemos numa via de mão única onde só valia prover as necessidades dos filhos de toda ordem, fosse ela financeira ou afetiva. Nosso grande objeto de amor era nossa prole. Ou seja, usamos o ninho pra preencher nosso vazio.
Muitas das vezes em nome desse suposto “amor”, tentamos mantê-los ao nosso lado, protegendo-os excessivamente, decidindo por eles ou mesmo “inconscientemente” impedindo-os de crescer e de se tornarem independentes e autônomos, temendo o dia da partida, o momento em que seguiriam suas vidas. Essas atitudes são na verdade grandes equívocos, pois geram uma insegurança nos filhos que podem crescer se considerando incapazes e temerosos diante dos desafios aos quais a vida diariamente nos confronta ou até mesmo se sentindo pressionados a fazerem as escolhas não deles próprios mas dos pais.
Deixá-los ir! Ajudá-los nesse processo de separação extremamente saudável a todo ser humano pode ser uma saída para construir essa relação. Se por um lado somos as criaturas mais dependentes de cuidados ao nascer dentre todas as espécies, por outro lado, precisamos ou mais do que isso, necessitamos ser livres para nos constituirmos sujeitos donos de nossas próprias escolhas. Quem não tem autonomia, quem não pode ou não consegue decidir sua própria vida, não poderá experimentar a delícia das frustrações, do cair e levantar, do lutar para conquistar. Sim, frustrar-se e aprender a lidar com tudo isso é a melhor forma de se tornar um adulto de bem consigo mesmo. Sofrer, ou “quebrar a cara” como no senso comum costumamos dizer, isso sim faz crescer, e pasmem…sobrevivemos à isso.
A saudade acontece, mas é saudável. Sentir saudades é sentir falta dos bons momentos, daquilo que ficou guardado na alma. Saudade é reviver o que foi bom, é relembrar com alegria a infância e juventude de nossos filhos, é justamente por ter sido bom e belo que desejamos repetir, ter novamente. Saudade é pulsão de vida. Não confundamos saudade com solidão, mas até mesmo ela é amiga e parafraseando Rubem Alves, as coisas são os nomes que damos a elas.
Aos pais fica a dica de diversificarem sua “bolsa de investimento afetivo”, como uma vez ouvi a fala do colega de profissão Charles José (Psicólogo Clínico e Psicanalista). Sim, diversifiquem suas atividades, seus interesses, façam o que lhes dá prazer, se percebam sujeitos antes de se perceberem pais e mães. Enxerguem prazer fora da maternidade. Se deem prazer, sejam homens e mulheres, exerçam sua sexualidade. Nem sempre é de um ninho vazio que se trata mas de um ninho que preencheu um vazio.
Andréa Pinheiro Bonfante- Psicanalista e Psicopedagoga. Graduada em Letras (Port./ Inglês e Literaturas) pela UNIG, Especialista em Tradução da Língua Inglesa; Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNESA; Pós graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA; Sócia proprietária da Clínica Vida Plena Valença-RJ; Palestrante de temas Psicopedagógicos e Psicanalíticos; Colunista do site Portal Valença.
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