Olá galera do MUSICALIZAR. Trazemos nessa primeira entrevista, ninguém menos que Ricardo Wagner Pereira Giesta que nos conta um pouco de sua trajetória pela música.
Ricardo Giesta foi produtor do programa “Mississipi Dream’s” na Rádio Fluminense e participou da reformulação da programação musical da Rádio Globo FM em 1985. Em 1992, formou o Ricardo Giesta Quinteto, juntamente com Paulo Maciel, Bruno Dvoran, Fábio Lessa, Francisco Falcon e Alberto Barreira quando lançou o álbum RICARDO BLUES GIESTA com composições próprias e raiz no Blues, mas também tendo passagens pelo Bluegrass, Jazz, R&B, e Funk e até ritmos brasileiros. Em 1995, fez parte da banda de Antonio Quintella, com Paulo Maciel, Paulinho Guitarra, Francisco Falcon e Eduardo Mexicano. Em 1996, o Blues Session, com Marcus Vinícius, Fábio Lessa, Paulinho Guitarra e Rejane Gibson.
Atuou em shows com vários artistas, como Baden Powell (Festival de Jazz de Nova Friburgo/1994), Blues Etílicos (Circo Voador/1994), Paulinho Guitarra (Teatro da Universidade Federal Fluminense/1997), Big Alambik (Festival de Blues de Niterói/1997), Celso Blues Boy, Arthur Maia, Cláudio Zolli e Baseado em Blues, entre outros. Tem seu nome no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira e com tremenda simpatia e prontidão nos concedeu essa bela entrevista.
Como surgiu seu interesse por música e seu desenvolvimento na guitarra em especial?
Ricardo Giesta – O som da guitarra sempre me chamou a atenção em especial. Comecei a me interessar e ouvir blues, pois parecia uma combinação perfeita. Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Johnny Winter, BB King, Robin Trower.
Você cursou alguma escola de música ou teve aulas particulares?
RG – Sou basicamente autodidata. Logo no início eu tive aulas de iniciação e introdução ao violão clássico com o prof. Roberto Nunes, que provavelmente foi minha única formação acadêmica, o que eu acho péssimo, mas tive sorte de viver em Niterói onde convivi com músicos como Cláudio Zolli, Arthur Maia, Paulinho Guitarra, Heitor TP, Zé Maurício, Antonio Quintella e muitos outros. Niterói sempre foi um celeiro de grandes músicos e com eles e uma centena de discos, que trocávamos e tentávamos tirar nota por nota, sem ter como dar pausa (risos).
Qual foi o primeiro blues que tirou na vida?
RG – Algo do BB King que me parecia simples e definitivo e tinha uma pegada que era tudo que todos os guitarristas precisavam para elaborar seus solos exuberantes.
Embora tenhamos músicos de extrema qualidade musical e trabalho expressivo em cidades do interior, você acha que ainda se faz necessário um músico mudar para uma grande cidade para que tenha seu trabalho reconhecido?
RG – Sim. Certamente um profissional terá maiores dificuldades para difundir seu conhecimento onde há menor concentração de oportunidades, mas talvez a tecnologia da comunicação de hoje possa estar mudando um pouco isso.
Ricardo Giesta e Paulinho Guitarra
O que você acha que melhorou no cenário musical para quem está começando a tocar agora?
RG – Sem dúvida o avanço dos meios de comunicação de hoje faz total diferença. Você apertar um botão e poder saber quase tudo de qualquer estilo ou músico que lhe interessa, vê-los tocando e até ensinando truques e tal… Em outros tempos, para tirar duas notinhas de um disco de vinil era um sufoco.
Qual sua visão sobre a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas? Isto tem funcionado na cidade de Niterói?
RG – Acho importante o ensino de música nas escolas, mexe com a criatividade e a sensibilidade das pessoas, mas acho que ainda precisa ter maiores incentivos.
Você ministrava um curso pela Universidade Estácio de Sá que continha em seu programa temas como: “A Raiz do Blues”, “O Country e o Bluegrass” entre outros. Você leciona guitarra ou faz workshops hoje?
RG – Fiz algumas coisas nesse sentido, como workshops e cursos de iniciação na guitarra de blues, mas é eventual.
Você acha importante a formação acadêmica na área musical? Por quê?
RG – Sem dúvida. Quando vejo que consegui alguma coisa como músico autodidata, penso que se tivesse melhor formação iria mais longe.
Você participou de vários festivais de blues durante sua carreira. Você vê o circuito de festivais como um nicho?
RG – Sim. Pelo menos no blues ou nos estilos de menor difusão nos meios de comunicação de massa, mas sinto que existem poucas oportunidades e algum corporativismo.
Você já teve a oportunidade de dividir o palco com músicos consagrados. De todos os artistas com quem já trabalhou, quais foram os que lhe ensinaram as melhores lições?
RG – Acho que com todos, sempre aprendemos algo quando há uma troca, mas sinceramente, aprendi muito com os músicos que me acompanharam com meu projeto solo: Francisco Falcon, Bruno Dvoran, Paulo Maciel, Alberto Barreira, Bruno Marques, Gustavo Zamba, Zelli Masur, Daniel Cheese, pois tivemos muito tempo juntos e boa dedicação.
Você acha que é importante para um instrumentista acompanhar outros artistas em sua carreira?
RG – Total, assim você terá desafios de toda ordem, ampliando seu conhecimento.
Você é formado em Comunicação Visual pela UFRJ e tem contato com vários artistas, designers e ilustradores. Você acha que um músico cresce ao estar envolvido com outros tipos de expressão, como artes plásticas e cinema?
RG – Toda expressão artística se alimenta de sensibilidade, na faculdade tive aulas com um dos maiores ilustradores do Brasil (Rui de Oliveira), ele dizia que “para fazer um bom desenho, não basta saber como misturar as cores, mas devemos ver bons filmes, ler bons livros e perceber o movimento das bailarinas”.
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O que você considera necessário para que se tenha êxito na vida musical?
RG – Claro que dedicação, amor, estudo… Mas também muita SORTE! Pois o êxito pode estar em ser um grande músico ou vender um zilhão de cópias.
Como produtor do programa “Mississipi Dream’s” pela rádio Fluminense FM, você teve a oportunidade de entrevistar grandes nomes do Blues. Conte-nos um pouco sobre essa época:
RG – Foi um tempo onde realmente tive oportunidade de ter experiências muito legais e estar como os grandes nomes do blues e do rock. A Rádio Fluminense era o Top de tudo que rolava na música e assim tive oportunidade de estar e conversar com Eric Clapton, Buddy Guy, Bo Didlley, Robert Cray, Ian Anderson (Jethro Tull), que foi pessoalmente na rádio levando centena de disco e assinando 1 a 1 e nós íamos presenteando os ouvintes que ligavam.
Lembro também de fazer especiais com entrevistas ao vivo, onde por exemplo chamei o Blues Etílicos para me ajudar a fazer um programa e conversar com a galera em tempo real. Entre as curiosidades desses eventos, lembro que Flávio Guimarães (Blues Etílicos) foi barrado na porta da rádio, pois tava de bermuda e assim fui buscar um moleton meu para quebrar um galho, pois o Flávio deve ter mais ou menos 1.90m e eu não estou perto disso, resolvido isso fizemos o programa rindo de tudo, pois eles levaram umas garrafas de Southern Comfort, um licor feito com frutas e whiskey, bebida predileta da Janis Joplin que é bom no dia, mas a ressaca…
Numa retrospectiva dos momentos musicais que viveu. Lembrando de bandas, músicos, shows, lugares… Que momento foi marcante?
RG – Tenho sim boas lembranças como: tocar na mesma noite que Baden Powell em Nova Friburgo e ele me confortando disse: “ainda bem que você toca com palhetas, pois com esse frio não sei o que vai ser dos meus dedos”… e eu estava pensando “pô esse é Baden Powell”… Também tocar para uma festa de automobilismo e recebermos elogios de Emerson Fittipaldi (sabendo que ele é amigo de George Harrison) (risos). Tocar em Valença também me traz boas lembranças como, na noite com o Delta Mood e os Harmond Groove, que graças ao talento do Alex, fez coisas inusitadas e conseguiu isso!
Ricardo Giesta e Delta Mood
Você tem trabalhos autorais, mas também tem em suas apresentações trabalhos de outros artistas. O que você acha da iniciativa de sites como o Youtube que têm incentivado a divulgação de vídeos autorais em detrimento aos vídeos covers? Você não acha que isso, embora pareça favorecer o autor em termos de direito autoral, pode por outro lado diminuir a divulgação de sua música?
RG – Eu acho que o Youtube e a rede têm dado chance de percebermos que o mundo gira muito mais rápido que nossos lentos entendimentos. Todos nós estamos em um momento de fortes mudanças que como meros mortais não temos a menor pretensão em saber no que vai dar, mas tenho a boa intuição de perceber que nos levará a lindos e abundantes caminhos, bastando para isso nos conscientizar que o meio ambiente precisa de carinho.
Qual é o seu equipamento atual?
RG – Hoje tenho: 01 Fender Telecaster dos anos 70, 01 Archtop Regal (Presente do amigo Heitor TP), 02 Dobros Guitar, 01 Banjo de 6 cordas, 01 Violão Fender, 01 Lap Steel, 01 Violão Del Vecchio tipo Dobro e meu primeiro Violão Giannini.
Pedais: 01 Super Over Drive Boss, 01 Compressor MXR, 01 Phaser MXR 100, 01 Talk Box Eletro Harmonix, 01 SuperFuzz Eletro Harmonix, 01 Chorus Boss, 01 Wah Wah Cry Babe e 01 Amp CRATE Vintage Tube 50.
O que você pode dizer para a galera de Valença/RJ? Uns ainda aprendendo a tocar, outros já com bandas formadas e correndo estrada. Mas todos buscando um lugar ao sol no vasto território da música.
RG – Vejo os músicos de Valença de hoje com muito respeito e admiração, o que não me surpreende, pois Valença tem uma tradição de grandes nomes como Rosinha de Valença, o guitarrista Herivelton entre muitos outros.
Por fim, o que o público do Blues pode esperar de Ricardo Giesta? Quais os projetos que estão em andamento?
Sempre que posso estou com a guitarra ligada, tentando me atualizar e com projetos paralelos, meu compromisso com a música e com o blues se formou pela paixão, o mercado não é proporcional às expectativas, tenho feito projetos paralelos, com influência de música sertaneja e Country, como músico de apoio, onde faço as guitarras Steel e Dobro, estou aprendendo bastante. Mas tenho um projeto pronto, gravado e mixado há muito tempo e pretendo trazer com ele algo instrumental com minha pegada logo que possível! Agradeço a oportunidade e o carinho. Um abraço a todos.
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Ricardo Giesta Quinteto no Blues Fest Campos:
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Ricardo Giesta Quinteto no Municipal de Niterói:
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Delta Mood e Ricardo Giesta:
Obrigado mais uma vez, Márcia Duboc! Pra fechar a conta e não ter briga, fica assim então… Os 3 são o “cara”! O entrevistado, a equipe do Portal Valença/RJ que bolou essa coluna, e você que representa os que comentam por aqui! Aí não tem briga!
Ricardo,
Fico feliz de ver que continua na música. Não esqueço as gravações que fizemos no antigo estúdio de Piratiniga, com Douglas e Luciano. Forte abraço.
Marco.