“[…] Não sou escravo de ninguém, ninguém é senhor do meu destino, sei o que devo defender e o valor eu tenho e temo que agora se desfaça […]” (Música: Metal Contra as Nuvens – Legião Urbana)
Iniciamos este nosso presente texto com a letra da música acima para tentar mostrar o quanto um simples personagem vivenciou os versos de Renato Russo.
O brilhante filme “Uma Lição de Amor”, de Jessie Nelson, lançado nos E.U.A., em 22 de março de 2012, tendo como atores principais Sean Penn (Sam Dawson – pai), Dakota Fanning (Lucy – filha) e Michelle Pfeiffer (Rita Harrison – advogada), retrata como uma sociedade feita para os iguais pode ser tão dura e pouco sensível para com os diferentes.
As dificuldades e desafios, demonstrados com o drama de Sam, um americano portador de Transtorno do Espectro Altista e pai solteiro de uma doce menina de 07 anos, nos faz refletir sobre a vivência de inúmeros portadores de transtornos mentais, discriminados em uma sociedade que, por hora, ainda privilegia os “iguais” em detrimento dos diferentes.
Sam não permite que os outros sejam senhores de seu destino e defende todos os valores que acredita serem corretos.
Durante o filme pudemos ver o quanto esses valores sociais de grande relevância eram importantíssimos para Sam, tais como a amizade, a lealdade, o amor, o compromisso e a verdade.
Apesar de possuir um QI de uma criança de 07 anos, Sam cumpria perfeitamente seu papel na sociedade, sendo produtivo e criando laços sociais por onde passava, desde o seu emprego, onde era querido pelo chefe e pelos seus colegas, até ao seu grupo de amigos (também portadores de algum tipo de transtorno mental ou síndrome). Mas Sam não restringe suas amizades apenas aos seus companheiros de deficiência mental, mas alarga suas fronteiras indo criar fortes vínculos de amizades com uma talentosa pianista, sua vizinha e por ele nomeada como babá de sua Lucy (filha).
Ao abordar a questão da deficiência mental, pudemos sentir, na pele, através da magia da sétima arte, o quanto é dura as dificuldades enfrentadas por Sam e por todos aqueles julgados “imbecis” pela grande maioria das pessoas de nossa sociedade.
Esquecem essas pessoas que o amor é um sentimento e não uma questão de QI, e que como tal deve ser mais considerado pelos pais que não prestam, sequer, atenção em seus filhos. Sam ensina a todos, mais particularmente a sua advogada, que o amor nasce de pequenos gestos de importância e que não pode haver maior prova de amor do que se confessar muitas vezes incapaz de agir em prol do outro, mas se postando ao seu lado para simplesmente lhe dizer: “estou aqui”.
Para nós estudantes de psicologia, psicólogos e demais profissionais da área da saúde mental, resta à discussão sobre a dignidade e a qualidade de vida desses que são nossos pacientes rotineiros.
Criar condições, leis e mecanismos de amparo e promoção dessas pessoas portadoras de deficiência mental, em vez de os segregarmos dizendo o que eles podem e não podem fazer, deve ser nossa preocupação primeira.
Acreditamos que pessoas, tais como Sam, portadoras de deficiências mentais, podem ter uma vida perfeitamente produtiva e com qualidade de vida, muitas vezes superiores as de muitas pessoas consideradas “normais”. Tal atitude poderá trazer para mais perto de nós, aqueles que a bem pouco tempo eram empurrados, algemados e acorrentados, para dentro dos antigos muros dos já extintos Manicômios.
Vistos como aberrações da natureza, imundos, endemoniados, possuídos e sem alma, tais pessoas sofreram por centenas de anos relegadas à própria sorte. Muitas delas se tornaram vítimas de violências inenarráveis, queimadas nas fogueiras da Santa Inquisição, acusadas como bruxas ou hereges.
O século XXI apenas se inicia, e uma nova mentalidade já permeia a nossa cultura, pois vemos obras magníficas sendo produzidas no cinema, e em outras artes, que começam a questionar esses paradigmas de que uma pessoa com Deficiência Mental é incapaz de cuidar da própria vida.
Quantos casos como o de Sam não existem e que nos levariam a repensar nossa atitude de surpresa quanto ao que ocorreu no filme?
Para finalizar esse singelo e despretensioso texto, poderíamos dizer que o filme “Uma lição de amor” nos fez ver, com os olhos de um Autista, a importância do afeto, do respeito e da admiração por pessoas que lutam em seu dia-a-dia para alcançarem a dignidade a elas negada.
Autor: Charles José da Silva. Psicólogo Clínico – e Psicanalista – CRP: 05/47134
Sócio proprietário da Clínica Vida Plena – Consultórios de Psicologia, Psicanálise e Psicopedagogia Clínica, situada na cidade de Valença/RJ.
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